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Um impecável baile de guitarras. É dessa forma que descrevo The Book of Souls, o novo álbum de estúdio do Iron Maiden. Um disco duplo, que mostra o quanto a banda ainda tem de gás musical para queimar, ainda que se valha de artifícios para lá de manjados em suas composições.

Depois que divulgaram a insuportável “The Speed of Light”, imaginei que o disco seria tão chato quanto a música carro chefe. Mas para minha surpresa as canções ficaram muito boas.

O que me chamou mesmo a atenção foi a qualidade dos solos e riffs, onde as guitarras são as protagonistas. O trio de guitarristas: Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers, estão incandescentes em seus solos furiosos e precisos. As bases e riffs conjugam-se de forma astral com cada música, o que me fez esquecer em muitos momentos os tons de voz insuportáveis que o Bruce Dickinson usou e abusou em quase todas as canções.

The Book of Souls é sem sombra de dúvida o melhor trabalho que o Iron Maiden já fez desde o retorno do seu grão-mestre Bruce Dickinson no final da década de 90. Mas para os saudosistas ou que curtem comparações, ainda está longe de ser melhor do que o Seventh Son, como alguns entusiastas bradavam no Facebook.

Quando a banda divulgou o setlist desse disco, os cientistas e analistas políticos do Metal despejavam seus criteriosos comentários acerca da possível investida da banda em músicas mais profundas e progressivas. Particularmente não achei isso, o disco está muito pesado e bem heavy metal! Mesmo com músicas longas, não é cansativo.

Como receita de bolo, a banda mescla momentos de calmaria e suavidade musical com verdadeiros hinos de guerra. Lembro-me de uma entrevista do Bruce Dickinson logo após o lançamento do Balls to Picasso, seu segundo álbum solo lançado em 1994. Bruce disse na época temer que Tears of the Dragon se transformasse em uma canção de guerra nas mãos de Steve Harris, já que ele havia composto essa música ainda no Iron Maiden. E The Book of Souls parece seguir esse paradigma musical. Uma balada que em certos momentos ganha ares de batalhas épicas e colossais. Onde o vocalista deixa o ouvinte desconcertado com tantas notas altas e gritos desnecessários.

O disco abre com “If Eternity Should Fail”, que no começo parece uma extensão da carreira solo do Bruce Dickinson, mas se desenrola como uma típica canção desse novo Iron Maiden. Na sequencia uma das músicas mais chatas do grupo. O clipe fantástico de “Speed of Light” foi divulgado na semana passada e me surpreendeu como propagando do disco. Como a banda conseguiu entre tantas canções boas, escolher uma com cara de Lado B? Assim como Holy Smoke – No Prayer For the Dying (1990) e The Apparition – Fear of the Dark (1992), Speed of Light está no topo da lista de músicas totalmente dispensáveis da donzela de ferro.

A terceira faixa “The Great Unknown” começa muito bem, mas o vocal “sirene de ataque antiaéreo” do vocalista tenta tirar um pouco do brilhantismo da música, que é recompensado pelos solos maravilhosos que a intercalam.

O que é “When the River Runs Deep”? Essa canção já pode entrar na lista de clássicos da banda e definitivamente não deve sair do set list dos shows. Rápida, Heavy Metal e explodindo riffs de guitarra. Acho que identifiquei um solo “sujão” do Janick Gers.

Fechando o primeiro CD, a faixa título “The Book of Souls”. São pouco mais de dez minutos de música cheia de atmosferas enigmáticas e ambientada em certo grau de misticismo. Chegando aos seis minutos, quando você acha que a musica acabou, a banda aumenta a velocidade e inicia o pandemônio cármico de fúria e agressividade. Uma canção cheia de pompa, mas ainda assim sem o brilhantismo que uma faixa título merece.

Quem abre o segundo CD é “Death or Glory”, outra canção rápida e típica do Iron Maiden, onde os duelos de solos e as “cavalgadas” de Steve Harris dão o tom. Uma música feita pra bangear nos shows e esfolar os pulmões cantando o refrão. A segunda faixa começa como uma Wasted Years zoada, “Shadows of the Valley” é uma canção boa, mas ainda com os solos chamando atenção a cada duelo dos guitarristas. A terceira faixa “Tears of a Clown” é uma boa musica, mas sem grandes atrativos, assim como “The Man of Sorrows”, que se salva pela introdução arrepiante de guitarra.

Fechando o CD a belíssima “Empire of the Clouds”. Se o álbum The Book of Souls viesse só com essa música já valeria o cd. Uma belíssima introdução com piano e violino, diferente de tudo o que o Iron Maiden já fez. Uma semi balada que ao longo dos seus 18 minutos mostra uma banda diferente, versátil a ponto de ainda conseguir manter sua essência. O vocalista se contem e resolve cantar boa parte da música, os riffs de guitarra são o fio condutor de uma das canções mais épicas do grupo.

Passagens orquestradas, mudanças de atmosfera, que são típicas do Iron Maiden, se tornaram a marca registrada da banda desde Remember Tomorrow do álbum homônimo, culminam aos 14 minutos em um clima vitoriano que dura alguns minutos e se harmoniza com um final arrepiante com a volta do piano.

No geral o disco tem uma mixagem estranha que não valoriza as músicas e talvez o brilhantismo que deveria ganhar. Assim como falar de política, religião e futebol gera brigas e intrigas, falar de Iron Maiden é quase uma sentença de morte para com seu público altamente fiel e extremista. O fato é: a banda está longe de conseguir resultados tão bons quanto seus discos da década de 80 e 90, mas conseguiu mostrar bons ares, mesmo que de forma burocrática. Talvez “Empire of the Clounds” encaminhe o Iron Maiden a um novo horizonte.

 

Linha do tempo

Nessa linha do tempo, desconsideramos coletâneas e discos ao vivo.

  • The Book of Souls

  • The Final Frontier

  • A Matter Of Life And Death

  • Dance Of Death

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